No próximo dia 7 de Junho terão lugar as próximas eleições europeias. O Parlamento Europeu é a mais alta instituição democrática das nações europeias. Esta instituição avalia e ratifica os acordos internacionais aos quais a União Europeia adere e negocia, vigia e modifica a legislação produzida a nível europeu, que constitui por transposição ulterior 70% da actividade legislativa de cada país membro da UE. O Parlamento Europeu é pois um órgão crítico para a determinação das orientações fundamentais da nossa sociedade, e foi nos últimos anos o palco de debates e campanhas intensas sobre questões de saúde ( , , etc).
Sendo a única instituição europeia constituída por via de sufrágio directo, as decisões do parlamento europeu são muito mais sensíveis às campanhas de sensibilização da parte de cidadãos e de organizações não governamentais do que outros órgãos europeus como por exemplo a Comissão Europeia, como foi verificado durante o voto das directivas mais polémicas.
Apesar da importância crucial do Parlamento Europeu para a evolução da nossa sociedade, as eleições europeias sofrem de uma significativa falta de participação de uma parte do eleitorado. É por isso que eu proponho que o direito de voto seja alargado a todas as crianças sem limite de idade. Com a utilização de sistemas de vídeo e áudio adequados, até deveria ser possível permitir a crianças ainda analfabetas de poder votar sozinhas sem dificuldade, uma vez que elas são capazes de jogar jogos de vídeo por consola com idades muito precoces. Desta forma a participação às eleições seria bastante mais elevada, sem que o funcionamento democrático da nossa sociedade seja grandemente alterado.
Alguns cépticos contestarão da falta de experiência e de capacidade de julgamento das crianças comparadas com os adultos, mas estudos recentes mostram que .
Com efeito, investigadores na Suíça decidiram comparar a maneira como as crianças e os adultos votam, e avaliar a relação entre esses resultados e os resultados de eleições reais. Eles utilizaram fotografias de candidatos às eleições parlamentares francesas (na fase de segunda volta, em que só há dois candidatos por posição elegível), e perguntaram a crianças suíças (5 – 13 anos) de escolher qual dos dois candidatos propostos é que eles escolheriam como “capitão” para uma uma viagem entre Tróia e Ítaca (no quadro de um jogo de computador). O resultado da escolha das crianças foi capaz de prever os resultados das eleições reais com uma probabilidade de 0,71. O simples facto de pedir a crianças de escolher entre duas fotos foi não só capaz de prever os resultados das eleições reais, mas ainda de prever a margem de vitória com um grande nível de confiança (P<0,001).
Quando os investigadores fizeram o mesmo teste com adultos, os resultados foram idênticos, sugerindo que quando as crianças e os adultos escolhem entre fotos de dois desconhecidos, eles utilizam provavelmente os mesmos métodos cognitivos. Estes resultados também sugerem que durante as eleições parlamentares francesas, o eleitorado utilizou pouco mais informação do que aquela fornecida pela foto do candidato para efectuar a sua escolha.
Perante estes resultados, acho que a democracia e o governo de Portugal não sofrerão grande dano adicional pela participação das crianças às eleições europeias ou legislativas deste ano.
E para aqueles que gostariam de votar segundo critérios mais racionais do que a aparência do candidato, ou o rótulo ideológico* (usando critérios como competência, desempenho, projecto político)? A única solução é de investigar por si próprio quais dos candidatos propostos serão os mais apropriados para ter um bom desempenho durante a legislatura e de levar a cabo o tipo de agenda que nos interessa.
Isso só é possível tendo informação objectiva sobre os candidatos. Ler o programa eleitoral de um partido é tão fiável como acreditar nas boas resoluções do ano novo. O mais útil é ainda investigar as actividades e desempenho passado dos candidatos, em geral indicadoras do seu desempenho futuro.
É por estas razões que eu apelo à contribuição dos leitores deste bilhete para o seguinte: dêem links para fontes de informação sobre o desempenho passado dos candidatos actuais à eleições parlamentares europeias, para que nós tenhamos pelo menos um resquício de razão de dizer que votámos de maneira mais responsável do que crianças…
Aqui vai a minha contribuição:
- Candidatos para as eleições europeias
- Avaliação da participação parlamentar dos eurodeputados portugueses durante a última legislatura
- Informação sobre as actividades dos eurodeputados da última legislatura
Como podem ver, no estado actual, não poderei votar de maneira mais responsável do que uma criança, daí o meu apelo aos leitores deste blogo.
* votar segundo o rótulo ideológico pode parecer mais racional do que basear-se unicamente na aparência de candidato, mas na realidade esse critério também é pouco eficaz e traduz uma certa preguiça intelectual: não é porque um candidato utiliza um certo rótulo ideológico que ele vai tomar decisões compatíveis com esse rótulo, e de qualquer maneira mesmo entre candidatos de um mesmo partido todos não têm as mesmas opiniões, competência, honestidade ou energia empreendedora.